Michael Douglas — uma sequência de personagens pouco recomendáveis que o levaram e o mantiveram no estrelato

É comum um ator ficar marcado por um ou mais personagens ao longo de sua carreira. Alguns criam uma fama atrelada a uma personalidade marcante ou a uma série de papéis com características semelhantes dentro de um mesmo gênero.

Hoje Tom Cruise pode ser visto como um astro de filmes de ação, mas o ator fazia jovens adultos em busca de sucesso fosse no mundo dos negócios, na força aérea ou nas pistas de corrida, com o sentimentalismo terminando por falar mais alto que a ganância, como em Rain Man (1988), Cocktail (1988) ou ainda Jerry Maguire: A Grande Virada (Jerry Maguire, 1996). Vanilla Sky (2001) e Colateral (Collateral, 2004) foram pontos fora da curva. Tom Hanks começou com filmes de comédia e depois abraçou uma série de tipinhos comuns que viviam histórias extraordinárias, mas sempre como o bom samaritano. Harrison Ford passou as décadas de 1980 e 1990 como arqueólogo aventureiro, médico acusado de um crime que não cometeu, policial, advogado, agente da CIA e até Presidente. Revelação (What Lies Beneath, 2000) foi um desvio isolado. Eddie Murphy era o descolado, o que ria e fazia rir diante do perigo, seja em Um Tira da Pesada (Beverly Hills Cop, 1984) e suas sequências, em O Rapto Do Menino Dourado (The Golden Child, 1986) ou 48 Horas parte 2 (Another 48hrs., 1990).

Michael Douglas moldou seus personagens em outro barro, escolheu o lado negro. O filho de Kirk Douglas, depois de até bancar um aventureiro das selvas, começou a pegar papéis de homens cheios de falhas morais em variados níveis. Alguns de seus personagens operavam à margem da lei, outros se movimentavam cinicamente pela área cinzenta e alguns eram mesmo criminosos em variados níveis. A fama e o sucesso do ator vieram de papéis polêmicos ancorados por ótimos roteiros filmados por diretores como Oliver Stone, Ridley Scott, Paul Verhoeven e David Fincher. O ano do estrelato foi precisamente 1987, com o sucesso de Atração Fatal e Wall Street. O ator já havia chegado aos 40 anos. Dali para frente, parece ter entendido naturalmente que havia um filão de ótimos papéis que se assemelhavam ao perfil dos que ele interpretou nessas duas obras. 

Elencamos a seguir os personagens que construíram a fama de Michael Douglas em Hollywood como um ator do lado obscuro, digamos assim:

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Advogado Dan Gallagher em Atração Fatal (Fatal Attraction, 1987) — Michael Douglas começa sua carreira no lado negro como um advogado de Nova York que tem um tórrido caso de final de semana com uma colega de profissão, Alex Forrest, interpretada por Glenn Close. O que deveria ser apenas um deslize pontual se torna um grande problema quando a amante decide que os encontros têm de continuar e então começa a infernizar Gallagher e sua família. 

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Investidor Gordon Gekko em Wall Street: Poder e Cobiça (Wall Street, 1987)— Um grande sucesso de Oliver Stone, esse conto sobre o universo de Wall Street é a história de homens que conseguem arruinar a vida da classe trabalhadora executando manipulações na bolsa de valores e ganhando fortunas sem exatamente produzir alguma coisa. A filosofia de vida de Gekko é que a ganância é algo bom para o homem. Para fazer dinheiro rápido, não se importa em burlar a lei utilizando informações privilegiadas. Como um autêntico corruptor de almas, Gekko tenta convencer um jovem, Bud Fox interpretado por Charlie Sheen, a usar das mesmas práticas, mesmo que tenha de prejudicar o pai para isso. 

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Policial Nick Conklin em Chuva Negra (Black Rain, 1989) — Dirigido por Ridley Scott, temos um choque cultural entre Estados Unidos e Japão ocorrendo por meio de uma ação policial que envolve escoltar, de Nova York para a terra do sol nascente, um criminoso da Yakuza . Poderia ser apenas mais um filme de duplas policiais que primeiro se estranham para depois juntarem esforços e, por fim, se tornarem grandes amigos, mas a direção de Scott aliada a um bom roteiro torna tudo muito melhor. Conklin é considerado um ótimo policial mas uma acusação não comprovada de corrupção o envolve em uma aura de desconfiança. O contraste entre o policial americano, com fama de corrupto, e o japonês, interpretado por Ten Takakura, vai além da linha de ação que o gênero acostumou o público, mas se torna um embate entre duas filosofias de vida diferentes.

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Detetive Nick Curran em Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992) — Michael Douglas interpreta um policial que tem mais problemas que o Nick Concklin de Chuva Negra. Curran, sob efeito de álcool, se envolveu em uma ação policial na qual atirou e matou alguns turistas. Consegue escapar da punição da corregedoria graças à ajuda da psicóloga do departamento, com a qual mantêm relações sexuais, e ainda por conseguir enganar o detector de mentiras. 

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Vendedor D-Fens em Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993) — No filme mais famoso do recentemente falecido diretor Joel Schumacher (esqueça os Batmen), Michael Douglas pira completamente em um dia excepcionalmente quente em Los Angeles. O homem só queria comparecer ao aniversário da filha, mas uma série de pequenos eventos e encontros errados fazem desabar a psique de alguém já abalado por várias frustrações. Quem nunca sonhou em disparar uma bazuca nos seus desafetos? 

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Analista de Sistemas Tom Sanders em Assédio Sexual (Disclosure, 1994) — Quando a nova colega de trabalho assume um cargo de direção que todos diziam seria seu é frustrante. Pior se a nova chefe for uma ex-amante. Pode ser pior ainda se ela demonstrar interesse em retomar o antigo relacionamento a despeito do casamento feliz de um deles. Michael Douglas é basicamente estuprado pela Demi Moore e se vê obrigado a iniciar um processo contra ela e a empresa correndo o risco de perder sua carreira e sua esposa. Sanders pode até ser considerado o personagem mais inocente encarnado por Douglas nessa lista, mesmo assim suas atitudes levantam muita desconfiança do público, dos colegas de trabalho e da esposa no filme. 

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Banqueiro Nicholas Van Orton em Vidas em Jogo (The Game, 1997) — Aqui temos uma jornada de transformação. De milionário com tons prepotentes, um homem que, como banqueiro, tira dos pobres para dar aos muito ricos, Van Orton se tornará praticamente um morador de rua, aprendendo humildade e adquirindo um novo conjunto de valores no processo.

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Investidor Steven Taylor em Um Crime Perfeito (A Perfect Muder, 1998) — Em um novo papel como investidor de Wall Street (podemos até dizer uma variação do Gordon Gekko), Douglas é um homem rico que tem de lidar com o relacionamento extraconjugal da esposa, interpretada por Gwyneth Paltrow, com um pintor, vivido por Viggo Mortensen. A solução lucrativa para resolver todos os seu problemas de uma vez que o sujeito encontra é encomendar o assassinato da mulher ao próprio artista.

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“Empreendedor” Ben Kalmen em O Solteirão (Solitary Man, 2009)— Será que a idade trouxe sabedoria para o Michael Douglas? Aqui ele é um homem falido que namora uma mulher apenas para poder usar os contatos do pai dela em um negócio, mas termina arruinando tudo ao dormir com a filha dela.

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Investidor Madec em Fora de Alcance (Beyond the Reach, 2014)— Imagine que Gordon Gekko saiu impune após os eventos de Wall Street e então encontrou na caça esportiva um hobbie. Nesse caso, ele seria igual ao Madec, um milionário prepotente que sempre consegue o que quer graças ao poder do dinheiro. Em Fora de Alcance, Michael Douglas vai além do ricaço corrupto e corruptor. Por exagero do roteiro, o seu personagem se torna praticamente um serial killer de filmes slasher.